Eu exijo demais?

Foto LM

Lúcio Cesar Menezes

Saindo de casa ontem eu vi uma cena que mexeu comigo: pai e filha caminham – ele a pé, ela de bicicleta. Ela está aprendendo, não domina ainda o brinquedo. Ele vai mais à frente. Quando ele vê meu carro pede para a filha subir na calçada que é mais seguro, aproveitando um lugar onde a guia é bem baixa. A menina se desequilibra e cai, ficando parte na calçada e parte na pista. O pai, aborrecido com o erro “absurdo” da filha lhe dá as costas para demonstrar todo seu inconformismo. Em vez de ajudar a filha, o pai faz cara feia, reclama e pergunta: será que você não vai aprender nunca?

Olhando de fora comecei a querer julgar o pai. Pensei que ele tinha tomado uma atitude errada e que não ajudava em nada sua filha. Foi só, pois logo percebi que já tomei a mesma atitude inúmeras vezes com meus filhos. Minha impaciência já causou muitos estragos parecidos.

Crianças têm diferentes ritmos de desenvolvimento motor e aprendizagem.  Não podem ser tratadas como adultos em miniatura! São diferentes e precisam ser aceitos em suas características, em seu momento, em suas peculiaridades.

Uma das razões para ficarmos impacientes com os filhos é por acharmos que eles erram (ou caem) de propósito. Reagimos como se tivéssemos a certeza de que a criança poderia fazer melhor e não faz. Sentimo-nos enganados, traídos. “Esse menino não quer nada com a vida!”. Na verdade, a criança não conseguiu  fazer o que queríamos apenas porque ainda não é capaz de! Não há nada pessoal, não há vingança, não há sabotagem, não há má vontade, não há implicância. Simplesmente a criança ainda não domina o que julgamos que ela já devia dominar.

No exemplo que dei, o pai preferiu deixar a criança correr risco na pista em vez de socorrê-la de imediato. Uma reação, certamente, mais emocional que pensada. Tudo motivado pela percepção errada do que estava acontecendo.

Agimos assim em esportes, na escola, em casa. Vá assistir a um jogo de futebol entre crianças de 6 a 8 anos e veja as cenas grotescas que muitos pais fazem gritando, xingando juiz, reclamando, quase chegando às vias de fato com outros pais. Os filhos, coitados, olham para a arquibancada encolhidos, temerosos de não serem tão adequados (craques) quanto deveriam. O descontrole emocional embota o senso de ridículo.

Olhando para meu próprio umbigo, percebi que estava exigindo demais de meus filhos. Caramba, são apenas crianças em formação aprendendo com as tentativas e com os erros. Nem sempre acertam, mas estou decidido a incentivá-los a tentar de novo, a não desistir, a se esforçarem para alcançar seus sonhos e objetivos.  Não quero recriminá-los por não conseguir, mas desejo estimulá-los a se superarem.

Quando começo a perder a paciência, respiro fundo quantas vezes for necessário e lembro que não posso eliminar a experiência deles com a vida. Não posso cair da bicicleta por eles, não posso ganhar jogos que eles têm que jogar, fazer as provas que podem reprová-los ou livrá-los das decepções que as derrotas trazem.  Seria uma usurpação do direito deles de viver e aprender com as dificuldades e com as vitórias.

Quero que eles façam o melhor que podem, mas não me frustro ou desespero ao ver que às vezes perdem, caem, sofrem. Afinal, fico muito feliz quando os vejo levantar, superar os obstáculos e tentar de novo até conseguir!

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